Tainara se olha no reflexo da água da piscina. Era a ultima vez que
teria que entrar dentro daquela piscina e se esforçar ao máximo fazendo o que a
professora pedia. Tinha tomado uma decisão. Iria largar a natação. Já não
precisava. Desde que tinha sofrido o
acidente de carro, vinha se tratando no Rio de Janeiro para não perder os
movimentos das pernas. O médico alertara
os pais de que se ela não fizesse natação a cadeira de rodas poderia ser
pepertua. Mas Tainara venceu. Agora anda
com as próprias pernas e não precisava mais fazer aquelas malditas aulas de
natação, entrando naquela água fria toda manhã.
A professora, uma mulher magra e cheia de rugas, com um coque ruivo na
cabeça se aproxima e fala séria.
- Os exercicios não devem parar. Tente ao menos dar uma corridinha em
volta da praia toda manhã.
- Eu vou voltar pra Goiânia. – Diz Tainara séria.
- Mas você não ia se casar?
- O Antônio aceitou ir pra minha cidade. Sei que seremos muito felizes
lá.
- Você sabe o que eu acho. Você deveria ficar e se interessar mais pela
natação. Você leva jeito. Pode virar uma esportista.
- A natação só trás lembranças
que eu quero esquecer Julia. Não adianta.
- Se você pensa assim. Mas acho
que Deus usa os momentos dificeis para nos darmos boas oportunidades de
crescer. E você que não está vendo isso. Aproveite o dinheiro que você gastou
vindo para o Rio.
- Não fui eu que paguei nada.
Minha tia pagou pra mim.
- Ela é muito generosa.
- Ela é muito rica. E não sabia
o que fazer com o dinheiro que estava roubando das suas funcionarias da
confecção.
- Espero que você aprenda a dar mais valor nas oportunidades
que a vida de dá.
- Adeus Julia.
Tainara sai do grande prédio de
fisioterapia de Santa Clara e entra no carro onde um rapaz dirigia. Ela o beija
e os dois falam rindo.
- Meu irmão vai ficar com o
carro. Minha mãe não gostou nada da idéia.
- O que ela falou? – Fala
Tainara com cara risonha.
- Falou que estou jogando meu
futuro no lixo me mundando para um cidade simplora.
- E seu pai.
- Ele achou um maximo ver o
filho perfeitinho dele se rebelando.
O carro sai pela rua e para a
cinco quadras e entra num apartamento. O casal abraçado carregando varias
sacolas sai do elevador e entra em seu apartamento. Tainara vai direto pra cozinha e o rapaz vai
ao quarto ambos com varias sacolas.
- Eu comprei novas roupas pra
você, e reservei as três horas pra gente ir. – Fala Tainaria do quarto. – Está
bom pra você Edgar?
- Está ótimo meu amor. Mas seus
famíliares sabem a hora que vamos chegar?
- É logico que não. Quero fazer
uma surpresa. – Diz ela rindo e encontrando com eles no corredor. – Eu não
contei pra eles nem que eu vou me casar.
- Como não Tainara? Você quer
matar seus pais?
- Vou chegar andando e com o meu
principe encantado do lado.
Logo o avião de Rio de Janeiro
para no Aeroporto de Goiânia. Tainara e Edgar descem do avião cheio de malas e
pegam um taxi. Ambos emocionados com a chegadas a pacata cidade de Goiânia.
Mas o trânsito impossivel faz
eles chegarem tarde na rua onde Tainara passou a infância e se surpreenderem
com a quantidade de gente na casa simples do centro.
- Uai moça, parece que a senhora
tem uma recepção. – Fala o taxista rindo.
- Mas eu não falei que iria
chegar.- Fala Tainara estranhando.
Mas quanto mais o carro vai se
aproximando, mas eles percebem a cara da multidão era de tristeza e não de
alegria. E ao parar na porta Tainara de mão dadas com o namorado percebe um
grande caixão dentro da sala da casa.
Tainara desce as pressas do
taxi, seu namorado se encarrega de descer as malas. Ela corre até a sala e vê
uma mulher chorando em cima do caixão. Era sua mãe.
- Mãe?
A mulher levanta o rosto. A pele
morena da mesma tonalidade da filha, mas cheia de rugas e bem magrinha e
baixinha.
- Tainara? Filha? É você?
A mulher abraça a filha não
dando tempo da menina ver quem era a pessoa no caixão.
- Cadê meu pai? Minha irmã? –
Pergunta Tainara assustada.
- Você está andando filha?
- Quem morreu?
- Calma filha. Foi sua tia
Zuleny.
Tainara vai até o caixão e vê
com pavor a face de sua tia branca com algodão no nariz.
- Como ela morreu?
- Teve um ataque do coração
filha. As funcionarias delas descobriram a faucatrua dela na empresa, e
ameaçaram leva-la a justiça. Ela deu tempo de organizar o pagamento de cada uma
e escrever esse testamento.
A mãe tira do bolso da saia um
papel. E Tainara tenta ler, mas os olhos cheios de lagrimas não deixa. A mãe
fala com carinho.
- Sua tia te amava de mais
Tainara. E como prova disso pagou todo seu tratamento no Rio de Janeiro e
quando morreu deixou a única coisa que lhe sobrou. A confecção dela.
- Ela deixou o que?
- Nos iamos te falar. Mas
esperavamos a noticia de sua melhora. Não queriamos piorar o seu rendimento na
fisioterapia. Venha filha se sente.
A mãe puxou Tainara para a
cozinha e lá encontra um homem já idoso de bigodes grandes tapando a boca.
- Minha filha.
- Pai. – Os dois se abraçam com
carinho.
- Sabia que você iria aparecer
andando assim a qualquer momento. Eu falei pra sua mãe ontem mesmo.
- Eu quero apresentar uma pessoa
muito especial pra vocês dois. É meu noivo. Cadê ele? – Tainara olha em volta e
não vê o rapaz em meio a multidão.
- Calma Tainara. Ele foi apenas
colocar suas malas no quarto. – Disse um dos rapazes que Tainara reconheceu
como seu primo.
Edgar carrega as malas até o
quarto e ao chegar lá encontra uma linda mulher arrumando o cabelo. Ela era a
cara de Tainara, só que os cabelos eram curtos e rebeldes e as roupas bem mais
vulgares.
- Bom dia rapaz? Quem é você?
- A Tainara acabou de chegar.
Onde posso colocar as malas dela? Eu sou o noivo dela. Edgar.
- Muito prazer. – Diz ela rindo
e segurando a mão do rapaz depois dele colocar as malas no chão.
- Sou a irmã da Tainara. Tainá a
seu dispor. – Diz ela saindo pela porta com um sorriso malicioso.